RESENHA DO FILME TETRO, DE FRANCIS FORD COPPOLA


           Caos e criação. Loucura e genialidade. Estes são os elementos principais que conduzem  o  último filme do veterano  diretor  ítalo-americano  Francis Ford Coppola.  Tetro, de 2009, é um dos projetos mais pessoais do diretor e possui vários elementos autobiográficos em  seu enredo. 
           Acusado  pela  crítica de ser  auto-referente, pois  situações  vividas dentro da própria família do diretor serviram como elementos ficcionais para a trama. A rivalidade entre o pai e o tio, respectivamente Carmine e Anton Coppola, ambos compositores eruditos, foram adaptadas para o enredo, assim como a admiração que Coppola nutria por seu irmão mais velho, sempre comparado a ele e vivendo à sua  sombra.

           Coppola  também  emprega em sua nova fita elementos de ópera e tragédia grega, que como tal, trazem  ao  enredo toda a dor e desespero que  se  espera destes gêneros artísticos meio fora de moda.
           Angelo Tetrocini, ou simplesmente Tetro, interpretado por Vincent Gallo, impôs-se há dez anos um autoexílio, fugiu de sua família norte-americana e foi viver em Buenos Aires como iluminador de teatro. Após uma temporada em  um  manicômio, conhece e se apaixona  pela bela psiquiatra Miranda (Maribel Verdú), os dois passam a viver juntos.
          Tudo corria bem até a chegada de Bennie, ou Benjamin (Alden Ehrenreich), seu jovem  meio-irmão de 17 anos, garçom em um cruzeiro que atracara por ali. Bennie tenta a todo custo saber o que motivou Tetro a desprezar a família, aos poucos consegue desvendar e entrar no mundo do temperamental meio-irmão mais velho.
            Os segredos de Tetro vão sendo revelados no decorrer da trama, que não vou especificá-los para  não estragar as surpresas de quem não viu a película ainda, mas basta dizer que a rivalidade entre o excêntrico personagem e o seu pai gerou mais danos ao clã Tetrocini do que poderia supor o ingênuo Bennie.
            Há uma transformação em Bennie no desenrolar da trama, que vai deixando o mundo juvenil de lado para se tornar um homem.  As descobertas dos segredos de Tetro servem como  metáfora para o amadurecimento do rapaz. Tetro segue o mesmo caminho daquele famoso  jogo de videogame  com  nome muito similar ao filme, onde o jogador  tem que encaixar as peças umas nas outra para passar para o próximo estágio.
            Tetro, na verdade é um personagem arquetípico, um  reflexo do  próprio Bennie e sua imaturidade.  Ele foge da família para encontrar-se, mas invés disso, se torna ainda mais confuso, e só se reencontra após a morte do progenitor, seu antagonista, que é quando Tetro/Benjamin amadurecem e alcançam a plenitude em suas vidas.

           Tetro é a representação do eterno adolescente, desprovido de laços e obrigações, é um boêmio irresponsável e iconoclasta. Tetro na verdade reflete a insatisfação e a imaturidade do irmão. O final do filme não confirma nenhuma teoria defendida por este pretencioso escriba, mas aponta e sugere algumas suposições. A mim sugere que a grande reviravolta do filme  representa  para o protagonista da película que  chegara o momento de deixar  o  pai  morrer  e  abraçar  uma  nova existência, uma realidade nova, onde  o  novo pai não é um modelo imposto, autoritário, mas alguém  cooperativo, que  aceita sugestões, alguém  imperfeito, mais humano. É como passamos a ver nossos pais quando crescemos.
            O filme encerra como um final aberto, onde fica a sugestão de novas possibilidades para o futuro.
            Tetro foi quase todo rodado em  preto e branco, com  belíssima e sombria fotografia do romeno  Mihai Malaimare Jr., premiado com o Independent Spirit Award de 2008, pelo filme, também  de Coppola, Velha  Juventude  (Youth Without Youth, de 2007). Todos os flashback’s foram filmados em cores. O filme é uma obra madura, que reproduz  as  obsessões de seu diretor/roteirista por sagas familiares, como na trilogia O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972; The Godfather  Part II, 1974; The Godfather  Part III, 1990) e também  pelas ambiguidades inerentes aos seres humanos, como em Apocalypse Now (1979).  

            Coppola, aos 74 anos,  mostra que ainda está em  plena  forma  para retomar sua carreira depois de um período  irregular  onde  produziu obras-primas como Drácula de Bram Stoker ( Bram Stoke’s Dracula,de 1992)  e desastres como Jack, de 1996.    Coppola ainda viveu um conturbado período em que foi à falência junto com  seu estúdio American Zoetrope, devido a uma dívida de US$30 milhões contraída com o fracasso do filme O Fundo do Coração (One from the Heart, de 1982), hoje considerado cult. Teve de  aceitar  fazer  filmes  pouco relevantes para saldar suas dívidas.  Ainda  passou  por  um  hiato de oito anos sem filmar nada, seu último filme havia sido O Homem que Fazia Chover (The Rainmaker, de 1997).  Hoje, já  recuperado  da  má  fase,  parece  não  se  incomodar com  as  colossais expectativas que seus próximos trabalhos geram  devido  à  aclamação  de  público e crítica do passado glorioso do cineasta.
             Tetro, segundo Coppola, tem  uma “conexão espiritual”  com O Selvagem da Motocicleta  (Rumble Fish, de 1983),  outro filme  reverenciado do cineasta, ambos semelhantes na forma e no conteúdo. 
            Tetro foi  rodado e distribuído  de  forma   independente,  foi pago com  dinheiro da vinícola  de Coppola, seu valor foi de US$15 milhões.


Por Roberto Eduardo

Referências:
Francis Ford Coppola.30 de maio de 2013. Disponível em:

 

Tetro.26 de março de 2013. Disponível em :

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Tetro> Acesso em 26 de junho de 2013
Cineclick – tudo sobre cinema. GADIOLI, Paulo. 02 de dezembro de 2010. Disponível em: <http://www.cineclick.com.br/falando-em-filmes/criticas/tetro.> Acesso em 26 de junho de 2013

TETRO - EM UMA VIAGEM PARA A ARGENTINA, BENNIE REENCONTRA O IRMÃO MAIS VELHO E DESCOBRE OS SEGREDOS DA FAMÍLIA. 25 de junho de 2009. Disponível em: <http://www.guiadasemana.com.br/cinema/filmes/sinopse/tetro> Acesso em 26 de junho de 2013

TETRO – O melodrama operístico de Francis Ford Coppola.HESSEL, Marcelo.09 de dezembro de 2010. Disponível em: <http://omelete.uol.com.br/cinema/tetro-critica/> Acesso em 26 de junho de 2013

Tetro - A volta de Coppola aos roteiros traz para as telas um drama autoreferente que não o ajuda a recuperar o posto de mestre. EUZEBIO, Geo. 13 de Dezembro de 2010. Disponível em: <http://www.cineplayers.com/critica.php?id=2068> Acesso em 26 de junho de 2013

 

Um comentário:

Nivaldete Ferreira disse...


Obrigada pelos comentários tão bem escritos. Estou vendo o filme agora, no Canal Arte 1.