Um grupo de indivíduos pertencentes à classe privilegiada planeja um jantar que nunca chega a acontecer devido a todo tipo de problema, incluindo um velório em um restaurante fino, um casal de anfitriões que não consegue conter seus impulsos primitivos e foge pela janela para ter relações no jardim de casa e um grupo de militares que invade a sala onde o jantar se realizaria.Tudo é temperado com muita ironia e críticas ao modo de vida da classe abastada e há ainda um molho onírico e surrealista. No filme alguns personagens interrompem a narrativa para contar seus sonhos e alguns “causos” pouco convencionais envolvendo fantasmas, cenas reais que se confundem com encenações teatrais e sonhos dentro de outros sonhos.
O filme expõe as hipocrisias dos burgueses quando ridicularizam um pobre motorista, empregado daquele pode ser considerado o personagem central da narrativa: o embaixador da República de Miranda, e traficante de drogas nas horas vagas, Don Rafael La Costa, interpretado pelo ator espanhol Fernando Rey. A cena onde Maurice, o chofer de Don Rafael, é ridicularizado é antológica, o grupo de amigos manda chamá-lo e pede que ele beba uma taça de Martini, ele vira a taça e engole a bebida rapidamente. Após sua retirada, François Thevenot, interpretado por Paul Frankeur, diz a seus amigos que a boa educação impõe uma maneira mais moderada de se degustar a bebida. Também há uma cena em que um dos casais centrais da narrativa, Henry e Alice Senechal (interpretados por Jean-Pierre Cassel e Stéphane Audran, respectivamente), humilha um bispo, conhecido por monsenhor Dufour, interpretado por Julien Bertheau, que se encontrava em trajes de camponês e pedia um emprego como jardineiro na casa dos mesmos, pouco tempo depois o religioso retorna a casa vestido com sua batina, o que leva os dois, constrangidos, a lhe pedir desculpas e a contratá-lo. Este mesmo bispo, mais adiante na película, comete um assassinato movido por vingança contra um homem a quem ele deveria dar a extrema unção, como se os roteiristas Buñuel e seu parceiro habitual Jean-Claude Carrière quisessem mostrar que nem os ditos homens de Deus estivessem imunes às paixões humanas.
Luis Buñuel era um cineasta de esquerda, ateu e anticlerical, assim como todos os surrealistas era um crítico feroz da burguesia e da igreja católica. Buñuel estudou em um colégio de jesuítas durante a infância e tornou-se ateu em um gesto de rebeldia adolescente, uma convicção que manteve até o fim de sua vida. Mas pode-se dizer que havia algo de contraditório na ideologia sustentada pelo genial cineasta, já que era de origem burguesa, sua família pertencia à elite espanhola. Buñuel era um burguês de esquerda, um comunista inconformado com suas origens.
O Surrealismo foi um movimento de vanguarda surgido em Paris na década de 20 que assumidamente sofreu influência de outro movimento anterior, o Dadaísmo, também das idéias de Sigmund Freud, o inventor da psicanálise, e do marxismo. Tinha como regra que o inconsciente do artista deveria ser a matéria-prima na criação de sua obra. Os valores tradicionais burgueses como família, pátria, religião, trabalho e honra foram duramente criticados nos manifestos dos surrealistas.
Entre os principais surrealistas encontravam-se o crítico e poeta André Breton, que era o líder e mentor do movimento, o talentoso pintor espanhol Salvador Dalí, o dramaturgo francês Antonin Artaud, os também pintores Juan Miró (espanhol), René Magritte (belga) e Max Ernst (alemão). Buñuel entrou para o grupo convidado por André Breton em 1929, após ter realizado seu polêmico primeiro filme Um cão andaluz, onde escreveu o roteiro ao lado do amigo Salvador Dalí.
Referências:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonin_Artaud acesso em 20/03/2012
http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Ernst acesso em 20/03/2012
http://pt.wikipedia.org/wiki/Luis_Bu%C3%B1uel acesso em 20/03/2012
http://pt.wikipedia.org/wiki/Surrealismo acesso em 20/03/2012
Por Roberto Eduardo
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