A Sangue Frio- Companhia das letras (Romance de não ficção) Falando sobre a obra prima de Truman Capote

Truman Capote filho de Archulus Persons um comerciante vigarista e da sua jovem esposa Lillie Mae Faulk. Quando seus pais se separam, foi morar com os parentes maternos e por ser uma criança solitária teve de aprender sozinha a escrever e ler. Quando em 1933 foi morar com sua mãe e padrasto, foi rebatizado, ganhando novo sobrenome de Capote.
 

Aos 17 anos termina o estudo formal e vai trabalhar no The New Yorker. O livro dividido em quatro capítulos, tem uma apresentação por Ivan Lessa e um posfácio de Matinas Suzuki Jr. Na apresentação Ivan Lessa discorre sobre um sarau entre Truman
Capote, Gore Vidal e Norman Mailler. Depois conta um pouco a trajetória de Capote, o seu nascimento em 1924 em Nova Orleans, o seu trabalho como Office-boy no The New Yorker; o seus posteriores escritos até chegar em 1959, quando ao folhear o The New York Times, Capote se depara com a história que viraria o livro.



No 1° capítulo “os últimos a vê-los com a vida” focaliza em boa parte a vida dos Clutter.
 

O proprietário da fazenda River Valley, Herbert William Clutter(48) formado em agricultura na universidade do Estado de Kansas, sua mulher Bonnie Clutter ( um único problema, sofria dos nervos), seus dois filhos Kenyon e Nancy, jovens obedientes ao lar. Nesse 1° capitulo ainda descreve os dois viajantes Perry Smith e Dick Hickcok; a chegada deles a Holcomb; o assassinato dos Clutter, depois a descoberta dos mortos e a repercussão na cidade.


O 2° capitulo “pessoas desconhecidas” é sobre as pessoas conhecidas das vitimas, também temos os dois assassinos viajando despreocupados pelo país (EUA), depois México, vivendo de aplicar golpes. Outro personagem destacado é o investigador Al Dewey atento a tudo que o cerca em busca de pistas sobre onde estariam os assassinos. Nesse capitulo vemos Perry e Dick em volta com o passado, os traumas , o rompimento com a família, o isolamento.


No capitulo intitulado “a resposta”, começa a ser desvendado o crime. Através de uma denúncia de um preso Floyd Wells que convivera com Dick Hickcok e conhecia a família.
 

Clutter e sabia do desejo do colega de cela de obter as possíveis riquezas da família. Com a prisão dos dois, se descobre os detalhes do crime; quem realmente matou a família foi Perry Smith que confessa para tentar livrar a pele do companheiro de viagem.


Nesse capitulo final encontramos o julgamento, a sentença e a transferência, para penitenciária onde esperariam o dia da pena de morte, porém entre a chegada a penitenciária e a execução dos dois são passados vários anos, onde os detalhes aparecem sobre a espera interminável. O dia da execução também é mostrada, com o enforcamento dos dois.


No posfácio por Matinas Suzuki relata um pouco sobre como Capote compôs a obra “A Sangue Frio”, suas influências, as polêmicas do autor na sua vida em outros momentos. Fala sobre Capote na invenção desse novo gênero de literatura com ferramentas do jornalismo. Um livro que inova por narrar o real, pode ser mesmo considerado o inaugurador de uma nova fase na literatura. Capote se usou dos recursos do jornalismo para compor seu livro.

Não deixou de usar as ferramentas de busca por informações através de varias fontes. Como exemplo se pode ver a conversa com os moradores de Holcomb, onde ocorreu o crime.
 

Tirando dessa convivência o clima perfeito para o enredo de seu romance. Hoje ao ver muitos programas policias se pode observar a forma como os repórteres conseguem extrair a informação se acostumando com o mundo das delegacias, no seu linguajar próprio: “meliantes”, “alta periculosidade” e conversando com testemunhas de crimes.


Essa vivência e o fato de ter Capote um faro próprio do jornalista de não se contentar com qualquer versão como verdadeira e tendo de buscar a fundo todo o suposto encadeamento dos acontecimentos, trás uma consistência grande a história e a relação de cada personagem com o todo.


Quando trás a vida da família Clutter, sem mesmo ter conhecido os mesmos, o autor lança um olhar para dentro de uma comunidade com seus costumes. Fotografando com seu olhar uma realidade que se confunde com a de outras famílias “perfeitas” exemplos para os demais moradores.


Depois tem a narrativa dos jovens viajando sem rumo pelo país em busca de aplicar golpes. Ao ver Dick e Perry, nota-se um reflexo da época e da violência do homem livre em uma democracia americana onde se pode “tudo”. Homens com infâncias diferentes, os dois criminosos não veem limites para suas atitudes impensadas.


Esse encontro entre dois mundos complexos tende a resultar em uma tragédia, no caso encontrado nesse livro. Essa família exemplar e dois jovens mau tratados pelo mundo das regras. Talvez ai se encontre não o assassinato de pessoas, porém a morte do passado.
 

Principalmente Perry ao sentir aquilo que lhe faltou durante a vida. É melhor para ele se livrar daquilo que não pode ter e estar representado naquela família.


Esse crime parecia mesmo beirar a perfeição, porém os dois não pensavam muito. Seu raciocínio era fixo em objetivos materiais a serem alcançados que não matar, porém satisfazer o vazio dentro de suas vidas.


Por isso a obra vai traçando esse paralelo, na busca de desvendar esse mistério e na continua viagem de Perry e Dick. Parecia mesmo não haver solução, porém como todo romance policial ocorre sempre à descoberta do autor do crime.


Como Truman Capote narra o real, não pode se dar o luxo de montar o quebra-cabeça dos acontecimentos ao seu bel prazer, como nos melhores romances de Agatha Cristhie. O autor tem de seguir o curso da vida como ela é. Claro dando uma pitada de dramaticidade ao contexto dos fatos.


Dentro da historia pode ser destacado em particular os momentos de ansiedade diante do julgamento. A busca por justiça é grande entre a opinião pública do Estado do Kansas.
 

Dentro desse contexto surge as particularidades. Vemos na preocupação com os presos como algo humano, mesmo dentro da maldade dos dois. O tratamento da esposa do agente da lei para com Dick e Perry trás a reflexão sobre os direitos humanos. Tantos presos jogados em superlotadas penitenciarias no Brasil e a forma dos EUA , país onde se tem pena de morte, porém busca respeitar a vida até o último momento.


A monotonia das últimas paginas, narra o momento marcante, porém silencioso. O enforcamento duro. Espanta a frieza de ver a morte ser ali concretizada, sendo ato terrível, porém obrigação moral de acontecer.














 Por Carlos Emanuel

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