RESENHA DO FILME LARANJA MECÂNICA

RESENHA DO FILME LARANJA MECÂNICA

     Laranja Mecânica significa segundo Anthony Burgess, o autor do livro que deu origem ao filme de Stanley Kubrick “Uma entidade orgânica, cheia de caldo, doçura e perfume, que é transformada em um autômato.” O título do livro provém de uma expressão anglo-saxã "As queer as a clockwork orange", ou, em uma tradução simplificada, "Tão bizarro quanto uma laranja mecânica".


     Kubrick, que em 1968 já havia dirigido e maravilhado o mundo com 2001: Uma Odisséia no Espaço transformou seu filme seguinte em uma atroz crítica aos governos que combatem a violência com ainda mais truculência que os marginais que tentam reeducar.
     Alex, um jovem desajustado, é líder de uma gangue que aterroriza Londres em um futuro próximo, cometendo toda espécie de barbárie, inclusive contra os membros de sua gangue, gerando descontentamento entre seus comandados, o que produzirá efeitos desastrosos para o protagonista. 

McDowell aos 27 e aos 67 anos

     Após cometer seu primeiro assassinato, o jovem Alex é preso e condenado a 14 anos de reclusão. Para reduzir sua pena, o rapaz aceita participar de um método experimental para “curar” pessoas violentas, o Tratamento Ludovico. Se aceitasse se submeter ao experimento receberia liberdade condicional após ter cumprido dois anos de prisão.  O método desumano obrigava sua cobaia a assistir a imagens violentas com os braços presos por uma camisa de força e tinha suas pestanas presas por pequenos ganchos para que não conseguisse fechar os olhos enquanto os filmes eram transmitidos.  A lavagem cerebral causou tamanha destruição na mente de Alex que este passou a se sentir mal quando tentava praticar qualquer ato violento ou quando ouvia a 9º Sinfonia de Beethoven, sua música favorita. Após deixar o presídio, Alex reencontra suas vítimas e elas o torturam quase até a morte.
     O desfecho do filme foi motivo de grande descontentamento de Burgess com Kubrick, que foi alterado tornando-o diferente do livro. A versão filmada por Kubrick foi baseada na edição americana do romance, que tinha um capítulo a menos que a original inglesa. No filme, a estória termina com Alex em uma cena surreal de sexo dizendo que estava curado do Método Ludovico. No livro de Burgess, a estória termina com Alex já maior de idade, no início do livro Alex tem apenas 15 anos, decidindo-se por abandonar aquela vida inconseqüente, pois já tinha formado uma nova gangue, e crescer finalmente. Detalhe: ao interpretar Alex, Malcolm Mcdowell tinha 28 anos.
     Há outro ponto digno de nota, a linguagem utilizada principalmente no livro pela gangue de Alex, o Nadsat, língua criada por Burgess, mistura de russo, inglês elizabetano e cockney, um dialeto obscuro falado em alguns lugares da Inglaterra. Drugui seria amigo, devochtika é garota, moloko é leite, rozzer é polícia.
      A cena do estupro da mulher do escritor foi inspirada em uma cena que ocorreu com a mulher de Burgess, que foi violentada por alguns jovens desordeiros. No filme ela também está ligeiramente diferente do livro, Malcolm Mcdowell canta enquanto estupra a mulher a canção Singin’ in the Rain. Com uma vida repleta de acontecimentos trágicos, Burgess havia sido diagnosticado com uma doença terminal, um tumor cerebral, estava previsto que o escritor teria no máximo um ano de vida, previsão esta que se revelou falha, pois ele ainda viveu o suficiente para publicar 30 livros, além de ser músico clássico nas horas vagas. O plano inicial de Burgess era escrever o maior número possível de livros para deixar sua esposa em uma situação financeira confortável após sua possível morte prematura. Ela morreu de cirrose hepática em 1968, muito antes do marido, que viveu até os 76 anos. Laranja Mecânica foi o 18º livro do escritor.
     Laranja Mecânica, o livro, forma, junto com Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, e 1984, de George Orwell, o tripé da ficção científica pessimista, livros que exploram um mundo futuro sombrio em sua proposta. Pode-se ainda acrescentar um quarto título a este peculiar subgênero, Fahrenheit 451, de Ray Bradbury.
     Na época de seu lançamento, em 1971, o filme foi banido na Irlanda, Malásia, Cingapura, Argentina, Brasil, Chile, Coréia do Sul, entre outros. A censura na Inglaterra, onde Kubrick residia e dirigia seus filmes, partiu do próprio diretor, que pediu que retirassem o filme dos cinemas, e só o transmitissem novamente após sua morte, pois ele e sua família estavam recebendo ameaças constantes contra suas vidas.
     

A distopia Laranja Mecânica foi o ápice da carreira de dois magníficos artistas, O recluso Kubrick e o controverso Burgess, que tiveram uma visão diferenciada para suas criações e obtiveram êxito apesar de lidarem com tantos percalços que fariam com que a maioria das pessoas se perdesse pelo caminho. Para finalizar, outro fato curioso envolvendo o filme de Stanley Kubrick, Walter Carlos, o compositor da trilha sonora do filme, fez cirurgia de mudança de sexo em 1972 e passou a ser chamado Wendy Carlos.

Referências
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anthony_Burgess. Acesso em: 28/04/2012
http://www.olivreiro.com.br/autores/151342-burgess-anthony. Acesso em: 28/04/2012
http://pt.wikipedia.org/wiki/Laranja_Mec%C3%A2nica_(filme). Acesso em: 28/04/2012
http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Laranja_Mec%C3%A2nica_(livro). Acesso em: 28/04/2012
http://pt.wikipedia.org/wiki/Stanley_Kubrick. Acesso em: 28/04/2012  acesso em 28/04/2012
BURGESS, Anthony. Laranja Mecânica. São Paulo: Aleph, 2004.







Por Roberto Eduardo

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