Poupa a si o sumo das sementes
Lança ácido suave na saliva
Dissolve com doce o dissabor, lasciva!
Adoça ainda os corações ausentes
Emudece o rumor da saudade
Inunda com choro sua canção
Retém e arrebata; grão a grão
Com o fluido dos tambores me invade
Conserta-te pura pr'eterno enlevo
Acaso não possa, se desfalece
em fruta, sêmen da flor que cresce
Esplendor da natureza, qual nunc'atrevo
silenciar a voracidade assassina
que desintegra as próprias formas no seio.
Desflora, desfauna, desmata; sem receio.
Matar-se e renascer-se é sua sina
Gravidade de cacto seco e cego
no torrão da madrugada ao luar leve
Fertiliza a descampada azul em breve
Desabrocha o broto lácteo que rego
Deleito-me de tão leitosa epiderme
Morna espuma, acorda a passarada ao leste
Sangramento febril do sol, o coração celeste
Deitado entre o açúcar anil e sua nuvem rosa
Tamanha emoção na voz da aurora soturna
Sorriso vagaroso em pleno amadurecimento
O tempo os encerra na polpa do esquecimento
Morena Viola, graviola a melodia noturna.
Por Daniel Victor


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