Canto de galo - Da Série "Sobre o Morar em Quitinete".

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Meu vizinho de aproximadamente quatro anos de idade me acorda, e a todo o prédio onde moramos, por volta de 06h da manhã gritando coisas como "mamãe eu vou morrer" e "me solta!". Dizem as psicólogas que ele está testando sua potência vocal, pois nessa idade a descoberta de uma qualidade individual é sempre acompanhada de muito treino. A recente descoberta da capacidade de comoção que seus gritos causam, fazem com que o pequeno abuse de suas cordas vocais, a exemplo de um pequeno galo que ensaia a demarcação de seu território.

Só que no caso, o território do "fasianídeo humano" de quatro anos é um prédio de três andares com sete ou oito quitinetes por piso. E os seus moradores (incluindo eu) são todos "aves sem asas" ditas homo habilis que só querem dormir um pouco mais num dia de sábado, depois de uma extenuante semana de trabalho, estudos e trânsito massante de uma metrópole engarrafada como a nossa Fortaleza.

E por falar em "fortaleza", a nossa é uma quitinete de uns 16 m² que mal nos cabe. Cabem porém todas as falas, conflitos, e dramas que comportam educar uma criança, que não tem espaço suficiente para crescer e se desenvolver, um drama comum nas grandes cidades. Às vezes a paciência acaba e sobra a vontade de gritar também. Mas lembro os meus trinta anos e que um dia também fui um pequeno desbravador de um mundo grande, cheio de mistérios e por conhecer.

Até logo!

Por Neto Alves