O PESCADOR DE ILUSÕES, DE TERRY GILLIAM E RICHARD LAGRAVANESE; Resenha

O que acontece quando se dá poder a um irresponsável? Possivelmente surgirão aberrações como o ex-presidente norte-americano George W. Bush, que pôs o mundo em alerta durante a maior parte da década passada. Numa escala menor é o que ocorre no início do filme O Pescador de Ilusões (The Fisher King) com o personagem Jack Lucas, vivido de maneira competente pelo ator Jeff Bridges.

Lucas é um arrogante e inconseqüente radialista que humilha seus ouvintes no ar em seu programa On the Radio e que, em uma atuação desastrosa, provoca a ira do psicopata Edwin Malnick, este entra em um bar chamado Babbit’s e promove uma chacina entre os freqüentadores do lugar, matando sete pessoas, depois se suicida.
Passam três anos e Lucas, traumatizado e alcoólatra, sobrevive como funcionário de sua namorada em uma videolocadora. Certa noite, ao sair da residência da companheira, prestes a cometer suicídio, Lucas é confundido com um mendigo e atacado por dois marginais da classe privilegiada, mas é salvo por Parry (Robin Williams), um mendigo que pensa viver na Idade Média e que tem fantasias com pequenos seres que conversam com ele, com o assustador e demoníaco Cavaleiro Vermelho e com o Santo Graal, o cálice de Cristo na santa ceia. Parry ainda afirma ser “ O Zelador de Deus”.
Lucas é levado ao porão onde Parry vive e lá fica ciente do tamanho do estrago que sua vida passada provocara, Parry, que era um professor universitário de história medieval chamado Henry Sagan, e sua mulher estavam no bar na noite do massacre, a esposa de Parry fora assassinada pelo maníaco, o que levou o professor a desenvolver a psicose que o acometera até então.
Arrependido, Lucas decide resgatar a dignidade do novo amigo. Nas palavras do próprio ex-radialista: “Queria poder apenas pagar a multa e ir embora”, Lucas acredita que ajudando Parry, estará ajudando a si próprio. Primeiramente tenta lhe dar dinheiro, o que não surte o efeito desejado, depois descobre que Parry ama platonicamente uma jovem chamada Lydia Sinclair (Amanda Plummer), que trabalha em uma editora de livros. Lucas decide ajudá-lo a conquistá-la.
Após algumas investidas mal sucedidas, os dois amigos e a namorada de Lucas, que se chama Anne Napolitano (Mercedes Ruehl, que levou o Oscar de atriz coadjuvante pelo papel), conseguem a atenção da moça. Os quatro saem para jantar e ocorre o primeiro beijo entre Parry e sua donzela. Mas logo em seguida, Parry tem um surto psicótico após reconhecer a fachada do bar Babbit’s, onde sua esposa morrera. Ele encontra com o Cavaleiro Vermelho e é perseguido pelas ruas de Nova York. Pouco depois, é cercado pelos mesmos malfeitores dos quais salvara Lucas e é brutalmente espancado.
Lucas, que se considerava “perdoado”, inclusive já retomara a atitude prepotente de outrora, recebe a notícia de que Parry estava em coma em um hospital. Ele vai até o hospital e promete ao amigo que, como na lenda do Rei Arthur, resgataria o Santo Graal para trazer Parry de volta à vida. Segundo Parry confidenciara ao amigo, o Graal encontrava-se na posse de um milionário chamado Carmichael, Lucas invade a imponente residência (semelhante a uma fortaleza medieval) e seqüestra o cálice, não sem antes fazer uma boa ação: ele encontra o milionário em uma possível tentativa de suicídio e o salva. Lucas entrega o Graal ao adormecido Parry e este desperta de seu sono curado.

Há uma parábola contada a Lucas por Parry, em uma cena um tanto constrangedora, que define com perfeição todo o enredo do filme, Parry inicia da seguinte forma: “Conhece a história do Rei Pescador? Começa com ele menino. Tem de passar a noite na floresta pra provar sua coragem e ser rei.
Enquanto está só ele tem uma visão sagrada. Do fogo, surge o Santo Graal, símbolo da graça divina. Uma voz lhe diz que guarde o Graal a fim de curar o coração do homem. Porém o menino só pensava numa vida cheia de poder, glória e beleza. E, em estado de surpresa total, sentiu-se, não como menino mas invencível, como Deus.
Aproximou-se do fogo para pegar o Graal e o Graal sumiu. Ele ficou com as mãos no fogo, queimando-se gravemente. Enquanto ele crescia a ferida se aprofundava. Até que, um dia, a vida perdeu o sentido para ele. Não tinha fé em ninguém, nem em si mesmo. Não podia amar...nem sentir-se amado.
Ficou transtornado com a experiência. Começou a morrer. Um dia, um tolo entrou no castelo e viu o rei sozinho. Sendo tolo, era ingênuo, e não viu um rei. Viu apenas um homem solitário, sofrendo. Perguntou-lhe por que sofria. E o rei respondeu: ‘Tenho sede, preciso molhar a garganta!’
Então o tolo pegou um copo ao lado da cama, encheu-o de água e deu ao rei. Ao beber, o rei percebeu que sua ferida havia sarado. Olhou para as mãos e viu o Graal que tanto buscara. Virou-se para o tolo e perguntou: ‘Como achou algo que meus homens não conseguiram?’
O tolo respondeu: ‘Não sei. Só sabia que você tinha sede’”.
Com seu inegável talento, e injustamente ainda não reconhecido pela academia, Terry Gilliam nos brindou no ano de 1991 com esta estranha e bela história sobre redenção, foi seu primeiro filme sem nenhum tipo de ligação com a maravilhosa trupe inglesa Monty Python, da qual era o único membro norte-americano, onde era encarregado das animações surreais que eram exibidas entre um quadro e outro do programa da rede BBC.


Referências:
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-7045/ página visitada em 11/09/2012


Por Roberto Eduardo

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