DONNIE DARKO, DE RICHARD KELLY, RESENHA DO FILME


No filme Donnie Darko, de 2001, do roteirista e diretor norte-americano Richard Kelly, o personagem-título, vivido por Jake Gyllenhaal, é um adolescente problemático de 16 anos, possivelmente esquizofrênico, que começa a ter visões de um homem vestido como um coelho monstruoso.

O coelho se identifica como Frank (James Duval) e salva sua vida em um bizarro incidente, depois lhe diz que o mundo acabará em 28 dias, 6 horas, 42 minutos e 12 segundos. Após a queda da turbina do avião sobre o quarto de Donnie, sua família é alojada em um hotel sob os cuidados da empresa FAA, responsável pelo tráfego aéreo nos EUA. Os pais de Donnie, Eddie e Rose Darko, interpretados por Holmes Osborne e Mary Mcdonnell, respectivamente, conversam sobre o ocorrido: Eddie diz para a companheira: “Frank Feedler. Você se Lembra dele?”
Rose responde: “Era da turma do colegial”
Eddie: “Ele morreu... a caminho do baile de formatura. Lembra? Ele disse que era amaldiçoado. Meu Deus! Vão dizer a mesma coisa sobre Donnie.”
Em seguida, Frank passa a orientar Donnie a cometer alguns atos de vandalismo que na verdade servem a um propósito maior, como inundar sua escola e queimar a casa do guru de auto-ajuda local Jim Cunningham (Patrick Swayze), talvez inspirado pelo livro The Destructors, do escritor inglês Graham Greene, livro estudado pelos alunos de sua sala, indicado por sua professora Karen Pomeroy e motivo de discórdia devido a seu conteúdo controverso. Donnie e Gretchen Ross, sua namorada, interpretada por Jena Malone, vão ao cinema assistir ao filme A Morte do Demônio, dirigido e roteirizado por Sam Raimi (1981), enquanto Gretchen dorme, Donnie conversa com Frank durante a exibição do filme. Não há mais ninguém na sala de cinema.
Donnie pergunta a Frank: “Por que usa essa fantasia idiota de coelho?”
Frank responde: “Por que está usando essa fantasia idiota de homem?
Donnie: “Tire-a.”
Frank tira a máscara.
Donnie: “O que houve com seu olho?”
Frank: “Sinto muito.”
Donnie: “Por que te chamam de Frank?”
Frank: “É o nome do meu pai... e do meu avô.”
Donnie: “Frank? Quando isso vai parar?”
Frank: “Você já devia estar sabendo. Quero que assista ao filme. Quero te mostrar algo.”
Em seguida, abre-se um portal no meio da tela do cinema e a casa de Jim Cunningham é vista na tela.
Frank: “Já tinha visto o portal?”
Quando a casa de Cunningham surge na tela, Frank diz: “Queime-a.”
Donnie põe fogo na casa de Cunnignham e este é preso sob a acusação de portar pornografia infantil, pois em sua luxuosa moradia os bombeiros encontraram um aposento secreto decorado com imagens sexuais envolvendo menores de idade, apelidado pelos bombeiros e pela polícia de Calabouço Pornô.
Frank, com sua fantasia grotesca, é uma referência ao coelho que guia Alice até o País das Maravilhas, apesar de Donnie Darko não se tratar de uma história infantil, como a obra homenageada escrita por Lewis Carroll. Na película há muitas referências pop: desde os também infantis Smurfs, até Stephen King (com certeza, uma inspiração para o diretor e roteirista).
Donnie passa a se interessar pelo tema da viagem no tempo após Frank lhe perguntar: “Você acredita em viagens no tempo?” Ele logo descobre que uma ermitã que vive nos arredores de sua cidade, apelidada de “Vovó Morte”, é na verdade Roberta Sparrow, uma teórica da viagem no tempo, que teria escrito o livro A Filosofia da Viagem no Tempo, que é interpretada por Patience Cleveland. Donnie encontra com o Professor Kenneth Monitoff (Noah Wyle) numa sala de seu colégio e o cumprimenta: “Professor Monitoff.”
Monitoff: “Donnie.”
Donnie: “O que vou dizer pode soar estranho... mas o senhor sabe alguma coisa sobre viagem no tempo?”
Monitoff: “O Buraco de Minhoca. A chamada Ponte Einstein-Rosen (Albert Einstein e Nathan Rosen). Teoricamente pode existir uma conexão desse universo com outro universo. Segundo Hawking (Stephen Hawking) um Buraco de Minhoca talvez nos possibilite achar um atalho para saltarmos entre duas regiões distantes do espaço-tempo.”
Donnie: “Então, para viajarmos no tempo, precisamos de uma grande nave para ir mais rápido que a velocidade da luz?”
Monitoff: “Teoricamente.”
Donnie: “E somos capazes de encontrar um Buraco de Minhoca?”
Monitoff: “Os princípios básicos da viagem no tempo estão aí. Tem a sua nave, o portal... sendo que a nave pode ser qualquer coisa.”
Donnie: “Como o Delorean?” (Referência ao filme De Volta Para o Futuro)
Monitoff: “Pode ser qualquer coisa.”
Donnie: “Adoro aquele filme. O modo como filmaram... é bem futurista.”
Monitoff: “Ouça... não diga a ninguém que lhe dei isso. A mulher que escreveu esse livro deu aula aqui. Ela era freira muitos anos antes disso... mas da noite para o dia ela se tornou outra pessoa. Aparentemente, abandonou a Igreja e escreveu esse livro. E se tornou professora de ciências aqui.”
Donnie: “A Filosofia da Viagem no Tempo... Roberta Sparrow?”
Monitoff: “Isso mesmo.”
Donnie: “Qual é?! Roberta Sparrow?” – Donnie vai até um quadro antigo com a foto dos professoras que já lecionaram no Colégio Middlesex e fixa o olhar no rosto de uma jovem professora, ele diz para si mesmo: “Roberta Sparrow. A Vovó Morte.”
A teoria dos Wormholes (Buracos de Verme), já foi muito explorada pela Ficção Científica, na qual pode-se encontrar estes portais, que são invisíveis na maior parte do tempo ao olho humano, através de uma viagem em uma nave que ultrapasse a velocidade da luz.
Em seguida, Donnie repete para Lilian Thurman, sua analista, interpretada por Katharine Ross, o que a Vovó Morte lhe sussurrou certa vez ao ouvido: “Disse que cada criatura viva na Terra morre sozinha.”
Nova conversa entre Donnie e o Professor Monitoff:
Monitoff: “Com uma espaçonave você viaja ao longo de um vetor... através de um espaço-tempo até o centro de gravidade.”
Donnie: “Como uma lança.”
Monitoff: “O que disse?”
Donnie: “Como uma lança que sai do peito.”
Monitoff: “Claro. E para a espaçonave viajar através do tempo ela tem que achar um portal ou um Buraco de Minhoca.”
Donnie: “Esse portal... ele pode aparecer em qualquer lugar e qualquer hora?”
Monitoff: “Acho isso pouco provável. Acho que está falando de um ato de Deus.”
Donnie: “Se Deus controla o tempo, o tempo foi pré-decidido.”
Monitoff: “Não estou entendendo.”
Donnie: “Todas as coisas vivas seguem um caminho. Se você puder ver seu caminho... então poderia ver o futuro, certo? Como uma viagem no tempo.”
Monitoff: “Está se contradizendo, Donnie. Se pudéssemos ser capazes de ver nosso futuro, nosso destino... então teríamos uma escolha de trair nossos destinos. E o fato de essas escolhas existirem faria com que todo destino pré-direcionado tivesse fim.”
Donnie: “Não se você viajar pelo caminho de Deus.”
Monitoff: “Eu não vou poder continuar essa conversa.”
Donnie: Por quê?”
Monitoff: “Posso perder meu emprego.”
Donnie sussurra: “Ok.”
Sem dúvida, uma história intrigante e com uma trilha sonora pra lá de empolgante, com clássicos dos anos 80, já que o enredo se passa no final da década oitentista. As canções que mais se destacam na seleção são Love Will Tear Us Apart, do Joy Division, The Killing Moon, do Echo and the Bunnymen e a melancólica Mad World, da dupla inglesa Tears for Fears, em interpretação do estadunidense Gary Jules.
Há ainda uma cena bem interessante, onde Donnie questiona uma frase escrita na lousa da sala de aula por sua professora, Karen Pomeroy (Drew Barrymore), ele pergunta a Karen o que significa Cellar Door, ela responde: “Um famoso lingüista dIsse uma vez que de todas as frases na língua inglesa... de todas as inúmeras combinações de palavras da história americana... Cellar Door é a mais bonita.
Donnie repete: “Cellar Door.”
Donnie encontra Cherita Chen (Jolene Purdy) no corredor do Colégio Middlesex, uma garota rejeitada por todos por ser imigrante, e lhe diz: “Eu prometo, que um dia, tudo será justo para você.”
Ela, assustada ao perceber que não é invisível ao protagonista da película, grita: “Cale a boca.” E foge, deixando cair um caderno com o nome de Donnie bordado na capa, revelando que o amava em segredo.
Pra finalizar, eis a carta escrita por Donnie para Roberta Sparrow ao fim do filme:
“Cara, Sra. Roberta Sparrow
Li o seu livro e há tantas coisas que preciso perguntar à senhora. Às vezes, tenho medo do que venha a me dizer. Às vezes, tenho medo que me diga que esse não é uma obra fictícia. Minha esperança é que no meu sono final eu entenda tudo. Espero que quando o mundo chegar ao fim eu finalmente fique aliviado... pois há muita coisa ainda para ir atrás.”
Donnie Darko é na verdade um filme sobre um livre pensador, autêntico em seus conceitos, portador de idéias próprias. É também um filme sobre a dificuldade de viver em um mundo cada vez mais dominado por pessoas e ideologias obtusas e equivocadas, que desprezam e condenam a originalidade. Qualquer semelhança com o mundo real, não é mera coincidência. “Cellar Door”


Referências:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Buraco_de_minhoca página visitada em 24/07/2012
http://www.observatorio.ufmg.br/pas09.htm página visitada em 24/07/2012
http://www.portaldoastronomo.org/tema6.php página visitada em 24/07/2012
http://www.cineplayers.com/critica.php?id=827 página visitada em 24/07/2012
http://pt.wikipedia.org/wiki/Back_to_the_Future página visitada em 12/02/2013
http://pt.wikipedia.org/wiki/Katharine_Ross página visitada em 12/02/2013

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